segunda-feira, 14 de junho de 2010

Juan, o taxista


Dizem que a gente conhece as pessoas mais marcantes da vida em situações inusitadas e inesperadas. Eu até concordo com essa teoria, já que toda surpresa (seja ela boa ou não) a gente costuma guardar (ainda que contra nossa vontade) em algum baú empoeirado

de nossa memória. Por vezes, tiramos a poeira e vivemos momentos de nostalgia deliciosos. Foi assim que aconteceu com aquele grupo de meninas.

Era uma viagem estudantil. Um congresso de um dos cursos mais bonitos e interessantes (em minha opinião): Comunicação Social, em todas as suas habilitações. O modo como chegaram lá, se alojaram, se conheceram, trocaram confidências, experiências e roupas é tema de outras crônicas. Esta é sobre um momento específico da tal viagem.

As seis jovens e o jovem estavam em uma festa regional de São João da cidade onde acontecera o tal Congresso. Em meio ao fuzuê contagiante do lugar, compraram uma cachaça famosa na região: Dona Encrenca. N

ão se preocuparam em se meter em uma encrenca (com a licença para o trocadilho), já que todo grupo tem alguém sóbrio. E este “alguém sóbrio” era exatamente a que vos escreve.

Foram vários brindes: às solteiras, ao Congresso, aos pais, à Lady Gaga (esta foi a campeã de todos os goles), à viagem, etc. Eu sabia o resultado de tudo aquilo. E sabia que ia sobrar pra mim. Foi uma noite divertida, mas isso é tema de outra crônica. O fato é que às 1h30, as jovens precisavam de um Taxi.

Mas não só precisavam de um Taxi; precisavam de algum taxista que topasse levar os sete estudantes de volta para casa no mesmo carro. Afinal, como já foi dito, éramos estudantes, e isso é quase sinônimo de “pobres”. Depois de muitos “nãos” ditos com caras amarradas e olhares de reprovação, fomos parar no Taxi de um rapaz de mais ou menos 28 anos (nunca soube exatamente sua idade), cabelo

baixo e rosto cansado.

O jovem foi acompanhando o motorista na frente, enquanto as seis jovens se apertaram no banco de trás. Não sei como consegui respirar e falar, mas o fato é que tentei negociar com o taxista, no meio do caminho.

- São R$ 2,00 por “cabeça”.

Achei ridículo ele comparando o taxi a um serviço de Buffet. Enquanto isso, as meninas gritavam, riam e cismaram em hablar español. Em meio a esse tumulto, minhas palavras soaram quase como um suspiro.

- Pô, moço, faz mais barato! Vai dar R$ 14. Na vinda, a corrida custou R$ 10 com o outro taxi... Faz mais barato, fecha nos R$ 10.

- Mas o outro Taxi não enfiou 7 pessoas em um carro.

Era verdade. Que tratante. E as meninas cont

inuavam gritando, e eu senti que estava perdendo os poucos nervos que me restavam. Clamei por silêncio, e enfim fui atendida. Mas não tive êxito na barganha. O taxista estava convicto do preço que propusera.

- Qual es tu nombre? – perguntou uma das meninas bêbadas em um portunhol engraçado.

- Ribamar – respondeu tímido, embora estivesse achando uma comédia.

- Juan? Juanito! – uma voz histérica tinha acabado de batizar Ribamar com seu mais novo codinome.

Ribamar não prendeu o riso dessa vez. Participou da brincadeira e respondia às frases em portunhol, ainda que em português. Chegamos ao destino e pedimos o cartão de Juan. Sim, feitas as apresentações devidas, volto a chamá-lo como sei chamar. Juan. Porque não dá para ser de outra forma.

No dia seguinte

, a continuação da saga.

- Alô, Juan?

- Pois não?

Ele já havia incorporado o personagem.

- Nós sete de novo.

- To chegando aí em cinco minutos.

E lá estava Juan. Dessa vez, mais solto. Mais sorridente. E com a música alta no carro. E então a gente se apertava no Corsa Sedan que ganhou nossos corações. Finda a festa, ligamos mais uma vez para Juan. E no outro dia, a mesma coisa. Suponho que ele estava começando a acreditar que realmente se chamava Juan. Ele estava mais brincalhão a cada corrida. Descíamos a ladeira íngreme em alta velocidade, gritando e com as mãos para o alto. No penúltimo dia, fizemos uma proposta.

- Juan, pega teu taxi, tua mulher e teus meninos e vá trabalhar em João Pessoa.

Nessa brincadeira, desco

brimos que era casado, não tinha filhos, mas tinha três lindos cachorros. E que não sairia de Campina Grande. Compartilhamos com Juan as vitórias dos trabalhos apresentados no Congresso; como a festa tinha sido boa; como estava frio; como a cidade estava cheia de gente. Foi quando entramos no Taxi de Juan pela última vez.

Se isto soou trágico, me perdoem. Deixem-me corrigir: Entramos no Taxi de Juan pela última vez naquela viagem. Parecíamos amigos de infância. Dissemos que tinha sido massa, agradecemos o preço (sempre R$ 2,00 por “cabeça”) e as vezes que ele nos socorreu em plena madrugada.

- Poxa, foi muito bom ter conhecido vocês – disse ele, finalmente – quando voltarem a Campina lembrem-se de mim. Vocês têm meu cartão.

Sim, a gente tinha o cartão do Ribamar na carteira. E todos nós tínhamos o telefone do Juan na agenda do celular. No dia seguinte, está

vamos no carro, voltando para casa. Em meio à depressão pós-viagem, lembramos do taxista loiro pai de três cachorros. Sem pensar, ligamos para ele e ativamos o viva-voz.

- Alô, Juan – eu disse, em um tom amigável.

- Opa! – respondeu Juan. A gente quase pôde vê-lo sorrir do outro lado da linha. Nós desconfiamos que ele não sabia quem estava falando. Ele não nos conhecia individualmente. Nos conhecia como uma massa homogênea de sete pessoas que se enfiavam em seu carro. Mas éramos uma massa de clientes bagunceiros que conseguimos construir um relacionamento incomum com um taxista. Mais que isso: éramos oito jovens que tinham se entendido.

- Dá pra levar nós sete para João Pessoa a R$ 5,00 por cabeça?

- Não, por causa da polícia rodoviária...




PS: A PEDIDOS, SEGUE A FOTO DO FAMOSO JUAN!

Como foi tirada de surpresa, ele foi pego em seu pior ângulo! Hahaha

Quando estiver em Campina Grande -PB, ligue 8879-7307 a qualquer hora do dia.



2 comentários:

Anônimo disse...

Essa merece ir para o seriado "As peripécias de Fernadinha & cia".

Coisa para se guardar

F.Lobo

Marcela disse...

Olá Fernanda.
Adorei seu blog, Parabéns.
Siim, sou de Campina Grande, e esse Congresso foi o Intercom??
Adorei as peripécias de Juan.
Parabéns.

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