sábado, 29 de maio de 2010

Surpresa

Sua alegria foi interrompida, naquela noite, por uma surpresa desagradável. Não por quem tenha sido, ou por quem tenha aparecido. Mas porque ela teve a ligeira impressão de estar sendo vigiada. Seguida. Observada. “Mas oras”, pensou. “Que estou fazendo? Quem sou eu?”. De qualquer maneira, lembrou-se do passado. Lembrou de tudo que haviam dito. E achou melhor fugir. Achou melhor esboçar um sorriso. Preferiu agir com naturalidade diante de seu passado exposto como uma ferida aberta. Entrou no carro, e mal pôde concentrar-se no que o colega estava dizendo:

“Eu agora estou acompanhando meu pai nesses dias...”

E seu pensamento ainda estava focado nas horas de sufoco. Seus olhos vagaram até fixar-se em algum ponto do infinito, presos a uma lembrança sufocante.

“...Ele precisa de minha companhia, você sabe...”

Não sabia. O que sabia é que queria ser feliz. Sabia o que estava fazendo. Não haveria de errar de novo, mas oh céus! Ninguém jamais entenderia isso. Por que é difícil entender um coração que não o nosso.

“... Boa noite.”

Sorriu timidamente, mostrando rapidamente seus dentes brancos. Tremendo no frio da madrugada, esforçou-se para acertar a fechadura. Caiu na cama, mas não chorou. Olhou para o teto. Para a lâmpada. Não sabe ao certo quantos minutos gastou pensando. Mas chegou à conclusão de que não mais agiria assim. De que não tinha de quem fugir. De que tinha que ser ela mesma. Com suas limitações, é verdade. Mas com suas convicções eternas. Apertou um botão qualquer do celular para acender o visor e poder ver a hora.

- É tarde – disse para si mesma. Sua voz era quase inaudível.

Apagou a luz e permitiu-se entrar na doce realidade dos sonhos.

1 comentários:

Anônimo disse...

Você fez os sentimentos de um coração partido algo realmente palpável.

Parabéns

F. Lobo

Postar um comentário

Sou toda ouvidos.